Hakani nasceu em 1995, filha de uma índia suruwaha. Seu nome significa sorriso
e seu rosto estava sempre iluminado por um sorriso radiante e contagioso. Nos
primeiros dois anos de sua vida ela não se desenvolveu como as outras crianças
– não aprendeu a andar nem a falar. Seu povo percebeu e começou a pressionar
seus pais para matá-la. Seus pais, incapazes de sacrificá-la, preferiram se
suicidar, deixando Hakani e seus 4 irmãos órfãos.
A responsabilidade de sacrificar Hakani agora era de seu irmão mais velho. Ele
levou-a até a capoeira ao redor da maloca e a enterrou, ainda viva, numa cova
rasa. O choro abafado de Hakani podia ser ouvido enquanto ela estava sufocada
debaixo da terra.
Em muitos casos, o choro sufocado da criança continua por horas até cair
finalmente um profundo silêcio – o silêncio da morte. Mas para Hakani, esse
profundo silêncio nunca chegou. Alguém ouviu seu choro, arrancou-a do túmulo, e
colocou nas mãos de seu avô, que por sua vez levou-a para sua rede. Mas, como
membro mais velho da família, ele sabia muito bem o que a tradição esperava
dele.
O avô de Hakani tomou seu arco e flecha e apontou para ela. A flechada errou o
coração, mas perfurou seu ombro. Logo em seguida, tomado por culpa e remorso,
ele atentou contra a própria vida, ingerindo uma porção do venenoso timbó. Para
Hakani, ainda não era a hora de cair o profundo silêncio; mais uma vez ela
sobreviveu.
Hakani, tinha apenas dois anos e meio de idade e passou a viver como se fosse
uma amaldiçoada. Por três anos ela sobreviveu bebendo água de chuva, cascas de
árvore, folhas, insetos, a ocasionalmente algum resto de comida que seu irmão
conseguia para ela. Além do abandono, ela era física e emocionalmente agredida.
Com o passar do tempo Hakani foi perdendo seu sorrido radiante e toda sua
expressão facial. Mesmo assim o profundo silêncio não caiu sobre ela.
Finalmente foi resgatada por um de seus irmãos, que a levou até a casa de um casal
de missionários que por mais de 20 anos trabalhava com povo suruwahá.
Esse casal logo percebeu que Hakani estava terrivelmente desnutrida e muito
doente. Com cinco anos de idade ela pesava 7 quilos e media apenas 69
centímetros. Eles começaram a cuidar de Hakani como se ela fosse sua própria
filha. Eles cuidaram dela por um tempo na floresta, mas sabiam que sem
tratamento médico ela morreria. Para salvar sua vida, eles pediram ao governo
permissão para levá-la para a cidade.
Em apenas seis meses recebendo amor, cuidados e tratamento médico, Hakani
começou a andar e falar. Aquele sorriso radiante voltou a iluminar seu rosto.
Em um ano seu peso e sua altura simplesmente dobraram. Hoje Hakani tem 12 anos,
adora dançar e desenhar. Sua voz, antes abafada e quase silenciada, hoje canta
bem alto – uma voz pela vida.
Texto extraído do link < http://www.hakani.org/pt/historia_hakani.asp
> em 22/02/12 (site oficial contra o infanticídio indígena que tem o nome da
indiazinha Hakani < http://www.hakani.org/pt/default.asp >)
Patrícia Magalhães